2007

Crítica : Invisíveis

2007

Com Ironia e Afeto: Ludicidades

O jogo é simultaneamente inserção na sociedade e afastamento do real já que ele repousa sobre uma representação esquemática da sociedade.

Jacques Henriot

Diante das obras que compõem a série INVISÍVEIS, iniciada em 2006 pelo artista Camille Kachani, somos surpreendidos, uma vez que nos aproximemos o suficiente, com as sensações simultâneas de familiaridade, mas também de estranhamento, que se destaca ao percebermos a presença de materiais do mundo industrializado, retratando emblemas banalizados do mundo em que vivemos. Não há espaço para considerarmos uma inocência possível ao nos conscientizarmos do processo posto em marcha pelo artista já há algum tempo, em obras anteriores: ele confere uma dimensão irônica e afetiva à relação entre os materiais que são utilizados e à imagem a eles associados como resultado plástico final.

Nesta série, dos engradados de cerveja, passando pela caçamba de lixo, ou ainda uma Kombi de carreto, uma betoneira entre outros itens do repertório urbano, todos adquirem no espaço expositivo uma relevância estética no sentido sensorial do termo tanto pelos materiais e pela grande escala, quanto pelas cores intensamente saturadas, que lhes são negadas no cenário das cidades. O apelo ao lúdico se destaca: a pelúcia está impregnada na nossa memória como algo que remete ao brinquedo querido na infância, ao aconchego, com evidente apelo ao toque; já a borracha E.V.A. nos conduz aos jogos de montar, e a todas as operações a eles ligados como o recorte, encaixe, além da relação na composição entre o todo e as partes.

O processo criativo empregado também dialoga com momentos marcantes da história da arte através da apropriação e do colecionismo (na escolha de imagens e materiais), da colagem e das assemblages (através do desmonte e recomposição das estruturas pictóricas de cada figura), do simulacro (onde a justaposição dos encaixes imita a textura da pincelada), da revalorização temática do banal e do cotidiano (colocada em evidência em tendências como a Pop Art). Inserido em seu próprio tempo, o artista parece querer nos conscientizar do fluxo ininterrupto no qual estamos imersos e que caracteriza nossa relação com as coisas, com a história que elas entretêm conosco e que ao final nos constitui como seres humanos.

Maria do Carmo Nino
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